Resumos e ordem de apresentações do Grupo de Trabalho 11

GT 11: “O Lugar da Obra de Arte na Historiografia: estética, política e ficção na construção de discursos competentes sobre o passado”

(TODAS ATIVIDADES DESTE GRUPO DE TRABALHO OCORRERÃO NA SALA 1H55, DO BLOCO H)

 

Renan Fernandes

Grace Campos Costa

Lays Capelozi 

 

Resumos dos Trabalhos Aprovados

Datas de Apresentação – 09/06 e 10/06

Luciana Angelice Biffi;

A cultura judaica em Woody Allen : uma análise de Melinda e Melinda

Neste trabalho, preocupo-me em compreender como a cultura judaica influencia, maneira direta ou indireta, as obras do cineasta Woody Allen.

O artista foi criado no amago de uma família judaica, americana, nos Estados Unidos no Brooklyn, apresenta em suas obras questões que são questões que permeiam o pensamento o judaico e que aparecem em suas obras de maneira refinada e subjetiva. Questões relacionadas a identidade, a fé, o destino, o acaso, entre várias outras que aparecem em seus filmes, também são algumas questões que marcam o judaísmo.

A formação de base é judia e isso de manifesta mesmo ele sendo um judeu não praticamente ou como ele se denomina, um judeu ateu. Ele não nega que é judeu, entretanto, tem uma postura crítica e por vezes irônicas perante os rituais praticados. Desta forma, procurei a princípio compreender o judaísmo de maneira geral, para depois analisar como que ele se revela nas obras de Allen. Tendo em vista que muitas de suas obras são autobiográficas e apresentam uma serie de idiossincrasias que nos permitem entrar um pouco no mundo de Allen e tentar entender como ele percebe o mundo ao seu redor.

Desta forma, me concentro no filme Melinda e Melinda, 2004, no qual ele é o diretor e roteirista, para fazer uma análise mais aprofundada. Neste filme ele faz um balanço do trágico e do cômico na atualidade e nos traz questões de cunho existencialista e estético. O filme se inicia com dois dramaturgos perguntando ‘A essência da vida é trágica ou cômica?’. Para responder essa pergunta lhes é apresentado uma série de fatos sobre Melinda (Radha Mitchell) que o espectador não possui conhecimento e assim, Sy (Interpretado por Wallace Sawn) e Max (Neil Pepe) desenvolve paralelamente a sequência ficcional de modo cômico e outro de modo trágico. Melinda surge desavisadamente em um jantar de negócios de uma amiga e acaba por alterar a vida dos outros personagens e a sua, em cada uma das versões apresentada. Woody não carrega apenas as marcas da cultura judaica, entre vários outros repertórios, no qual ele dialoga.

Para tal dialogo historiográfico, utilizei principalmente os livros ‘O Judaismo’ de Maurice Ruben Hayoun, 2007, para compreender o judaísmo de modo amplo. O livro ‘Conversas com Woody Allen: seus filmes, o cinema e a filmagem’, 2008, que é um livro de entrevista e depoimentos do próprio artista e por fim ‘A tragédia Moderna’ de Raymond Willians, 2002, para compreender as mudanças dos conceitos de trágico e cômico.
Grace Campos Costa

Entre alfinetes e babados em Prêt-à-Porter (1994), de Robert Altman: uma crítica à sociedade de consumo.

 

Compreender a relação entre moda e cinema, como essas duas linguagens se interagem e o cinema se torna um meio de difusão daquilo que é tendência, através dos seus personagens e filmes. A moda se torna o centro da narrativa fílmica, como podemos verificar no filme Prêt-à-Porter, escrito, produzido e dirigido pelo cineasta Robert Altman.

Analisar o filme, seja por suas cenas e o seu roteiro, nos oferece uma perspectiva ampla sobre o objeto estudado. Veremos a trajetória cinematográfica de Robert Altman, que durante sua carreira sempre esteve distantes de realizar filmes que garantisse sucesso de bilheteria, indo na contramão da indústria hollywoodiana.

Por fim, selecionamos a crítica dos filmes para trabalhar com a recepção da sua obra, cuja opinião de jornalistas e críticos de moda geram controvérsias à respeito da obra do cineasta.

Bruna Thalita Aquino Silva

Um olhar sobre o “amor” em Sex and the City

O ingresso da mulher no mercado de trabalho pode ser tratado como um dos fatores que influenciou na mudança da estrutura familiar? Qual a relação que podemos estabelecer entre a nova posição da mulher no século XXI e a “crise” encarada nos relacionamentos (como fluidez, liquidez, frouxidão) atuais que estão sendo estudadas por diversas áreas do conhecimento? O amor romântico é uma possibilidade? E ainda, há de fato muitas mudanças nas formas de se relacionar ou há apenas uma maior exposição do intimo na esfera social? Essas são algumas das perguntas que guiam esta pesquisa.

A partir da leitura do livro “Histórias Íntimas – sexualidade e erotismo na hisótia do Brasil” de Mary Del Priore, de “Amor Líquido” de Zygmunt Bauman e de “Família – amo vocês” de Luc Ferry é possível pensarmos um pouco sobre as mudanças vividas na transformação da esfera íntima para a pública e vice-versa, e como estas afetam diretamente a relação entre homens e mulheres frente ao amor e à família.

Com todas as mudanças trazidas pelo século XX, uma delas é a presença da televisão e o avanço do cinema no cotidiano social. Temos considerado, não apenas a televisão ou o cinema, mas as mídias em um sentido geral, como o “quarto poder”. Até mesmo o judiciário já tem o quarto poder como uma de suas preocupações. Esse quarto poder se institucionaliza porque se tornou uma das maiores, senão a maior, ferramenta de formação de mentalidades e construção de ideologias, por isso,o estudo desta temática (o amor), se torna importante não apenas na história, mas também no cinema.

Assim, o amor se coloca como uma questão importante a ser considerada, uma transformação social em que um fenômeno é posto. Vemos, que a questão do amor romântico está problematizada no seriado Sex and The City, onde buscaremos nos debruçar e trazer o mesmo para o debate histórico.

Um seriado produzido e exibido na viração do séculos (XX-XXI), quatro mulheres independentes, bem sucedidas em suas profissões, bonitas e que lidam com o amor das mais diversas formas nos proporcionam um ambiente favorável para esta reflexão.

Rodrigo Francisco Dias

Pensando a “escritura fílmica da história”

 

O presente trabalho procura elaborar um estudo sobre a “escritura fílmica da história”. O ponto de partida de nosso estudo é o debate entre dois historiadores norte-americanos, Natalie Zemon Davis e Robert A. Rosenstone, que manifestaram opiniões diferentes sobre a relação entre Cinema e História. A partir disso, trazemos algumas contribuições de autores do campo da Teoria da História para aprofundar nossas reflexões sobre o tema. Nosso objetivo é estabelecer um diálogo tanto com Davis quanto com Rosenstone, apontando para a necessidade de se pensar as semelhanças e as diferenças entre as narrativas produzidas pelos historiadores e as narrativas produzidas pelos cineastas.

Laís Gaspar Leite

A Revolução Industrial às margens de Modern Times e o caráter do vagabundo.

 

O caráter que tentarei descrever nesse trabalho, sobre a Revolução Industrial não ultrapassa a produção do filme Modern Times (1936), pois, a discussão historiográfica levantada sobre o período fabril será entorno da genialidade de Chaplin expressada na obra, em que dialogaremos com uma historiografia grandiosa, como Marx; Thompson; Engels e Weil, diante das brilhantes cenas do filme.

O vagabundo, personagem principal de Modern Times, durante o longa anuncia várias atitudes questionáveis, que nos levaram a um embasamento teórico, pois se trata de um operário que busca qualquer forma de trabalho, porém é incapaz de se adaptar a um, pois o operário que se adequa às forma de produção na sociedade fabril está sujeito a maior forma de coerção gerada pela máquina nas mãos do capital: A alienação.

No sentindo de Marx, alienação é a ação pela qual, um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos (alienados). Deste modo, na definição do conceito de alienação exprime a ideia de que o homem aliena de si mesmo os produtos de sua atividade e faz deles um mundo de objetos separados, independente e poderoso, com a qual, se relaciona como escravo, dependente e impotente. (BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro. ZAHAR. 1988­).

O vagabundo nas primeiras cenas da película em ações involuntárias de sabotagem se revolta contra a máquina destruindo-a burlescamente, demostrando, assim gestos mecanizados gerados pela repetição excessiva exigido pelo capital. Porém, ao decorrer da obra não enxergamos quaisquer resquícios do personagem ser dependente ou escravo da maquinaria, pois, o vagabundo ironicamente não se adaptará ao trabalho ou a qualquer tipo de classe.

Portanto, o vagabundo é um homem isolado que se afasta do mundo do trabalho, não consegue mais agir em concerto com os outros, porém não perde a criatividade humana, não deixa de pensar, contudo o vagabundo não carrega a consciência de classe ou pertence a uma.

Assim, a ideia central deste trabalho é discutir as possíveis características do vagabundo -o grande deboche de Chaplin- um personagem em uma sociedade industrial capitalista inadaptável ao trabalho à produção.

Caroliny Pereira

O Atlas Mnemosyne de Aby Warburg e alguns aspectos da sua ressonância na contemporaneidade

Esta proposta de comunicação tem como proposição axial o estudo do projeto Atlas Mnemosyne proposto pelo historiador de arte Aby Warburg (1866-1929), iniciado em 1924 e interrompido com a morte de Warburg em 1929. Para além de uma proposta de análise de imagens, o Atlas Mnemosyne se desdobra em um conjunto de estudos profícuos para se abordar questões concernentes tanto à própria história da arte quanto a algumas produções poéticas desenvolvidas a partir dele.

Caminhando na contramão da corrente de análise de imagem predominante de sua época, a  teoria da formatividade, desenvolvida por Henrich Wölflin, Warburg articulou uma abordagem historiográfica que perpassava pela psicanálise, sociologia, antropologia,  filosofia e pela própria história, desenvolvendo assim um complexo estudo das imagens. O estudo que Warburg desenvolveu no Atlas é proficiente para discutir-se questões importantes ainda hoje a partir dos conceitos de montagem, fragmentação e movimento; assim como também pode auxiliar no entendimento de uma revisão da história da arte, que é suscitada na atualidade. Nesse viés, estudos desenvolvidos por teóricos como Phillipe Allain-Miachud, Georges Didi-Huberman e Georgio Agamben, tem corroborado para essas discussões, e para o reverberamento do pensamento do Warburg na Atualidade.

Efetuado esse estudo sobre o Atlas, em um último momento busca-se observar como o Altas warburguiniano ressoa na arte contempoânea, para além dos inúmeros estudos teóricos desenvolvidos a partir dele, procura-se considerar projetos artísticos e curatoriais que o utilizam como referência. Dentre estes estão, alguns atlas de artistas como: Gerhard Richter, e o projeto curatorial de Georges Didi-Huberman, cuja exposição percorreu vários museus do mundo, incluindo o Museu de Arte do Rio de Janeiro.

Thayane da Rocha Cruz Dias Freitas.

Jean Baptiste Debret e o Uso de Imagens no Ensino de História

 

O ponto de partida dessa pesquisa surgiu de um interesse particular pela unidade de Brasil Colonial durante o terceiro período da graduação, nesse momento já fazia parte do grupo de estudos em História e Linguagens Artísticas e também do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência, o PIBID. Durante uma das aulas de Brasil Colonial o professor chamou a atenção da turma para a imagem na capa do livro Ser escravo no Brasil de Kátia Mattoso, em uma busca na internet, já que ainda não possuía o livro, descobri que a imagem era a tela de Jean-Baptiste Debret, Escravo no Pelourinho. A partir daí apresentei minha intenção ao meu orientador e começamos a desenvolver o projeto de pesquisa. Posteriormente, registramos o projeto de iniciação científica sem bolsa junto à Universidade. Então, o tema surgiu de três pontos, o período de Brasil colonial, as linguagens artísticas e o ensino de história. Nesse trabalho, temos o objetivo de fazer novas reflexões e retomar algumas já feitas, de modo a contribuir para área de uso de imagens ensino de história no Brasil a partir das obras de Debret inseridas nos livros didáticos do Ensino Fundamental distribuídos nas escolas públicas brasileiras. Analisar como é a abordagem das imagens pelo livro didático e de que maneira as obras do pintor de história francês contribuem para a formação do ensino de história hoje.

Melina Xavier de Sá Morais

Representação cultural: Debret e o Brasil colônia

A proposta de trabalho tem o intuito de discorrer, brevemente, através da historiografia sobre o artista francês, Jean-Baptiste Debret (1768-1848), mais especificamente em relação ao seu livro, Voyage pittoresque et historique au Brésil (Viagem histórica e pitoresca ao Brasil), questões de autoria, recepção e da história da arte. A investigação se dará diante de suas criações e/ou descrições em relação aos costumes do Brasil oitocentista, já que para tanto consideramos o artista francês como um grande ‘contemplador’, aquele que é capaz de captar o mundo ao seu redor de forma atenta e meticulosa, sem deixar passar aos seus olhos nenhum acontecimento, principalmente os de caráter transformador da fugacidade vertiginosa das sociedades. Para tanto realizou-se uma pesquisa bibliográfica, de maneira exploratória sobre as diferentes orientações teóricas no que diz respeito ao artista francês e as questões que nos dispomos retratar, sobre autoria, recepção e história da arte, respectivamente pelos devidos autores e/ou obras: Carelli (1994), Schwarcz (2008), Taunay (1983), Schmidt (2013), Jauss (1994), Iser (2007),  Zilberman (1989), Gombricht (2012), Francastel (2011) e Coleção Folio (2008). Dessa forma, com o estudo tentamos demonstrar a importância de Voyage pittoresque et historique au Brésil, em relação, sobretudo, a linguagem pictórica e histórica que Debret se vale para pôr em cena a brasilidade dos anos iniciais do século XIX. O tema dessa apresentação – “Representação cultural: Debret e o Brasil colônia” – nos pareceu especialmente apropriado ao momento pelo qual experiencia o campo das pesquisas sobre a arte brasileira do século XIX. Nos últimos anos vem crescendo o número de trabalhos que estudam o período: artistas e obras, críticos, movimentos e a própria “Academia Imperial de Belas Artes” têm sido tema de diversos estudos. Todo este saber faz com que as artes passem por uma vasta renovação. Diante deste contexto, parece fundamental refletirmos sobre a historiografia oitocentista, bem como sobre os artistas vinculados a essa historiografia, em especial o artista francês: Jean-Baptiste Debret. Em suma, ao estudar o artista francês, fazemos um recorte bem específico da história, ou melhor, um recorte que trata, além do mais, da redescoberta de um artista que dedicou ao Brasil elucidações estéticas e artísticas, ao fazer de sua linguagem um vasto material histórico à posteridade.

Thuane Graziela Xavier Pedrosa

As percepções do tempo histórico do pintor José Maria dos Reis Júnior: uma análise das obras artísticas e livros publicados.

 

Refletir sobre qual era a percepção de História que Reis Júnior possuía. Buscar entender como esse homem, fruto do século XX, que vivenciou duas guerras mundiais, nascido em Uberaba e com formação ampla dos diversos lugares que passou no Brasil e no mundo, recupera a história para produzir seus quadros e escrever seus livros. Para isso, temos alguns fatores que nos ajudam a pensar sobre essa apreensão do autor, que são as telas de temas históricos, o dicionário de arte produzido por ele e as duas biografias de conceituados artistas.

 

Camilla Bosco Silva

A modernização arquitetônica de Uberaba nos anos de 1930 a 1940

A pesquisa tem como foco a residência onde atualmente se encontra o Hotel Tamareiras, esta casa foi projetada por Carlos Simonek em um estilo arquitetônico que surge da junção do mouro de origem árabe com o florentino proveniente da Itália para o pecuarista mineiro Guiomar Rodrigues da Cunha em 1941. O domicílio hoje, pertence ao empresário uberabense Silvio Rodrigues da Cunha, que o adquiriu no ano de 1985 e terminou o projeto do hotel no final de 1989. A proposta principal é analisar os elementos simbólicos que envolvem o processo de construção arquitetônico na cidade de Uberaba, identificando assim a representatividade de Guiomar no início do século XX, período da construção, além de observar a influência dos criadores de gado na cidade tendo em vista que o proprietário se tratava de um pecuarista. Sendo assim, o objetivo do trabalho é analisar a partir da construção da residência, as relações sociais que se estabeleceram no processo de consolidação dessa elite uberabense.

Renan Fernandes

Décio de Almeida Prado: Transições entre o Discurso Crítico e o Historiográfico (1940-1987)

A proposta deste trabalho é o estudo da produção intelectual do crítico e historiador do teatro brasileiro Décio de Almeida Prado, especificamente entre os anos de 1940 e 1987. Assim, à luz das discussões ligadas à estética da recepção (Hans Robert Jauss) e acerca do conceito de matriz disciplinar (Jorn Rüsen), nos propomos estabelecer os debates referentes à formação da crítica teatral brasileira enquanto gênero literário. Por conseguinte, pretendemos articular essa formação enquanto influência teórica para a construção de uma matriz interpretativa da historiografia do teatro brasileiro.

Partindo desse questionamento, nossa pesquisa tem como intenção articular o trabalho crítico e historiográfico de Décio de Almeida Prado, atentando para as aproximações entre esses dois campos de atuação autor. Com efeito, pretendemos  estabelecer o diálogo que contemple o estudo das críticas teatrais articuladas ao o processo de delimitação da historiografia do teatro no Brasil. Ressaltaremos, assim, a possibilidade  dessas duas áreas do conhecimento tornaram-se retroalimentadoras, ou seja, influenciadoras do discurso uma da outra.

Dito de outra maneira: pretendemos abordar – a partir do estudo das críticas teatrais e do trabalho historiográfico de Décio de Almeida Prado– a ideia de que tanto as críticas teatrais quanto a historiografia do teatro brasileiro surgem de um mesmo âmbito teórico-metodológico, ordenando um discurso que se constituiu como base interpretativa do fazer teatral nacional, seja pela historiografia ou seja pelas críticas, sendo legitimada através dos tempos. Acreditamos, portanto, que o do trabalho de Décio corresponde à fase de formação de uma nova matriz interpretativa para a crítica e a historiografia do teatro brasileiro, processo desenvolvido durante a existência da revista Clima e consolidada com a experiência do Suplemento Literário até o ano de 1968.

 

 Marcella Gonçalves da Costa.

“O Teatro dos Críticos: reflexões sobre o lugar de Jefferson Del’ Rios na Historiografia do Teatro Brasileiro”

 

 

A proposta deste trabalho é decorrente de pesquisas já iniciadas com o projeto de pesquisa de iniciação científica, O Teatro dos Críticos: Politização – Estetização – Pós- Modernização [1950 – 2010], sobre a orientação da Profª. Drª. Rosangela Patriota e incentivo do CNPq, que possibilita um novo olhar para a historiografia do teatro brasileiro através da ótica da crítica teatral.

Este estudo se debruça, especificamente, sobre o crítico teatral paulista Jefferson Del’ Rios e seus registros. Principalmente seus livros publicados pela “Coleção Aplauso Teatro Brasil” com a reunião de suas críticas desde 1969 (quando o autor ocupa a crítica teatral do jornal A Folha de São Paulo) até 2009 (estando em atividade, atualmente, no jornal O Estado de São Paulo). Temos, assim, um compilamento de 40 anos de ofício cujas críticas foram selecionadas por ele mesmo, um suposto balanço de memória.

Nestas páginas, Jefferson é um autor destacado pelo seu ofício. Portanto, conhecemos assim uma parte de sua vida através dos seus registros como profissional da área teatral, crítica e jornalística. Injunções de uma via de mão única que optamos por partir do seu nome e dialogar com as áreas da arte e da cultura, da história e do teatro. Buscando em outras fontes, como o seu livro “Bananas ao Vento”, registros de sua autoria para além das críticas e das questões do seu tempo que possam complementar a pesquisa. Abarcando não só o modo como o autor realiza a crítica teatral, mas também o seu papel como crítico e o seu possível lugar na historiografia do teatro brasileiro.

Diante disto, o recorte elegido, para ser enfocada neste trabalho, concerne ao início de sua trajetória profissional, ou seja, a década de 70. Delimitação temporal em que é possível de ser perceber apontamentos do autor quanto à emergência de debates relacionados ao trabalho de “Teatro de Grupo” e de “Teatro Comercial” e, também, a relação do crítico com uma determinada historiografia do teatro brasileiro da época.

Em suma, pretendo trazer as percepções iniciais quanto a como Jefferson Del’ Rios compõe o “seu teatro”, ou seja, o seu caráter histórico, suas propostas e suas singularidades. Partindo do pressuposto da crítica teatral ser mais que um registro, ela é, também, capaz de organizar a experiência histórica, dar forma a uma memória. Logo, ao pensar em Jefferson Del’ Rios, entrevemos as possibilidades para ver a escrita da História não só como privilégio do historiador.

Letícia Fonseca Falcão

CRÍTICA TEATRAL E HISTORIOGRAFIA: OS DISCURSOS DA ESCRITA DA HISTÓRIA DO TEATRO BRASILEIRO.

 

A crítica teatral, que assume um papel crucial em diversos momentos da História do Teatro Brasileiro, muitas vezes acaba sendo tomada apenas enquanto uma representação da prática teatral, assumindo a tarefa de teorizar a recepção das obras e muitas vezes de ser um lugar de registro dessas impressões e da construção de novos momentos na cena nacional.

Entretanto, muitas vezes nos esquecemos que essas páginas tem se configurado como importantes referências para a história do teatro brasileiro. Assim, este trabalho visa refletir acerca da crítica teatral enquanto prática. Trata-se de tomar como objeto de pesquisa as facetas adquiridas por essas narrativas que tantas vezes  preenchem as lacunas da historiografia acerca do teatro brasileiro num do esforço de organizar a experiência histórica e estética que envolve o tema.

Trata-se um esforço empreendido no sentido de compreender a constituição de um discurso fortemente dotado de autoridade intelectual. Percebemos na crítica teatral um espaço onde muitas lutas são delineadas, onde tendências estéticas são postas a julgamento e especialmente onde muitas vezes se forjam construções de uma pretensa memória capaz de estabelecer-se por muitas vezes enquanto a dita “História do Teatro Brasileiro”. Assim é possível notar a presença de uma perspectiva e um compromisso que em momentos específicos aparenta vir do anseio de construir através destes textos uma interpretação lógica  e  histórica daquilo que se contempla no universo teatral.

Frequentemente nos deparamos com críticos teatrais empenhados na tarefa de interpretar determinado momento de nossa dramaturgia pelos mais variados vieses: a modernização, o engajamento político, a internacionalização  do palco brasileiro, etc. Mais do que um diálogo ou produção interdisciplinar, somos então postos diante de sujeitos que tomam para si muitas vezes a tarefa de historiadores do teatro brasileiro e somos enfim instigados a compreender a historicidade dessa produção e dessa narrativa tão híbrida e que tantas vezes tomamos como referência.

Pensar o lugar da obra de arte na historiografia torna inevitável o movimento que nos leva a refletir  sobre os  diversos lugares e discursos onde a história está sendo feita e os questionamentos que delineiam a busca por uma compreensão atrelada as inquietações históricas, políticas, estéticas e sociais desses sujeitos. Isso posto, este trabalho propõe enfim discutir o ofício do historiador e o lugar de sua narrativa no debate com diversas áreas do conhecimento na busca pela construção do conhecimento histórico, tendo como centro a discussão entre historiografia e crítica teatral.

Luciana Tavares Borges

De um Joaquim a outro. As cartas de Machado e Nabuco sobre o “lugar” da literatura brasileira.

As correspondências entre Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo (1849-1910) e Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) encerram um rico material de análise sobre a literatura e a política do Brasil oitocentista e do início do século XX. Compreendidas por um período de 1865 a 1908, estas missivas expõem a luta de ambos por um projeto de uma literatura nacional. Amparados por uma concepção de uma identidade literária, Nabuco e Machado procuravam-se destoar do projeto dos românticos sobre a literatura brasileira. Desse modo, estes dois intelectuais imbuíam em suas cartas a intencionalidade de transformar a literatura não num projeto nacionalista e ufanista, mas que a mesma refletisse em si a cor local. Nesse sentido, a fundação da Academia Brasileira de Letras procurava instaurar uma instituição literária, que correspondesse a esse anseio. Daí que essa comunicação pretende problematizar o sentido de um projeto de uma identidade literária somada ao projeto do país emancipado politicamente, que buscava a sua solidez no cenário mundial. Dessa forma, faz se necessário argumentar em que sentido denominar um “lugar” na literatura brasileira a tornaria uma instituição autônoma e reflexiva dos assuntos locais.

Ciro Macedo de Souza

Narrativas Revolucionárias no Teatro Russo: O Mistério-Bufo de Vladimir Maiakovski

 

A Revolução Russa tradicionalmente foi tratada pela historiografia por um viés político-institucional: escrevia-se, em linhas gerais, uma história do partido bolchevique. Sem desmerecer a importância desses estudos, acreditamos na relevância de se abordar também outros aspectos desse complexo momento histórico, tais como a cultura, as artes, a economia, o imaginário, etc.

Nesse sentido, optamos por um enfoque nas artes e cultura desse período que contou com artistas tão inovadores e até hoje influentes em diversas áreas: Kandinski (artes visuais), Rodtchenko (fotografia), Eisenstein (cinema), Vertov (cinema-documentário), Meierhold (teatro), Maiakovski (poesia, teatro), dentre outros.

Maiakovski, conhecido como o poeta da revolução, foi uma das figuras que mais incorporou a arte e a política como esferas unidas. Sua arte engajada esteve presente nos mais diversos fronts: poesia, teatro, cinema e até mesmo em cartazes publicitários (propaganda socialista).

Ao tomarmos contato com sua obra dramatúrgica, uma grande mudança da relação do autor com a URSS nos chama a atenção: o otimismo da primeira peça (Mistério-Bufo, 1918) com a revolução daria lugar à comédia política fortemente crítica aos burocratas (Os Banhos, 1930) e também à sátira-sombria de ficção científica (O Percevejo, 1929) que, como os melhores exemplares do gênero, apontaria para um futuro tenebroso tendo por base as mazelas do presente.

Com base nisso, iremos analisar nesse trabalho sua peça Mistério-Bufo. Para tal, o diálogo com historiadores que tratam do uso do teatro como fonte para a pesquisa histórica é essencial. Deve-se buscar entender o código estético próprio da atividade teatral, em seus vários elementos: dramaturgia, interpretação, cenografia, iluminação, trilha sonora, figurinos, etc.

Uma dificuldade a ser enfrentada se deve ao caráter de acontecimento do teatro. É um evento que ocorre em determinado momento e depois de dissipa, deixando rastros: no texto da peça, na memória dos atores e dos espectadores, em eventuais imagens, pinturas, fotos ou filmes, nas críticas teatrais. Cabe ao historiador recompor esses elementos para tentar se aproximar do acontecimento.

Nesse ponto a pesquisa histórica tem muito a oferecer ao campo teatral, estabelecendo mediações entre o documento e o processo histórico em que ele foi criado. Assim, partimos de Mistério-Bufo para tratar de diversas questões referentes à história cultural da Revolução Russa.

Lays da Cruz Capelozi

“O Casamento” de Nelson Rodrigues: Perspectivas do Brasil dos anos 60”

A proposta deste trabalho tem como pressuposto a compreensão da historicidade do único romance lançado por Nelson Rodrigues, O Casamento,publicado em 1966, o romance aborda uma família carioca bem sucedida que irá casar sua filha mais nova, o pai entra em colapso ao se dar conta dos seus sentimentos pela filha, mas ao mesmo tempo, sabe a importância do casamento perante a sociedade. Partindo disso, a pesquisa tenta compreender, primeiramente, qual o concepção de casamento e família para Nelson Rodrigues, para isso iremos utilizar algumas de suas peças e sua trajetória no jornal.

Leilane A. Oliveira

Discussões acerca do poder e da alteridade: o objeto artístico em questão – Oleanna (David Mamet)

 

Antes de qualquer discussão temática é necessário analisar o tempo e o espaço em que se insere a obra Oleanna, valorizando sua singularidade, as tensões e incertezas que carrega, enfim, resgatando sua historicidade, sua temporalidade, uma vez que é construída por um sujeito histórico que faz suas escolhas estéticas, políticas e sociais.

Localizar temporalmente uma obra significa olhá-la em seu contexto social, político e cultural. Assim, que tipo de sociedade possibilita que determinadas obras e temáticas sejam produzidas/reproduzidas?

Oleanna faz parte de um conjunto de obras escritas por David Mamet, sobretudo na década de 1990, uma vez que o texto teatral foi escrito em 1992. Retrata o ambiente de uma universidade, onde se desenvolve um longo diálogo, entre um professor e sua aluna, que desvendará a complexidade das relações que se expressam na sociedade, marcada pela disputa de poder, pela busca da liberdade e da felicidade individuais, além de trazer questões como o politicamente correto e suas consequências desastrosas. A década de 1990 é o palco para essas discussões, sobretudo para aqueles que, como Mamet, vivenciaram os arautos de 1968, os movimentos liberais, de contestação da ordem social, dos direitos civis etc. e os movimentos radicais que se empenharam na luta contra a opressão e pela inserção de grupos sociais no espaço público, como os negros, as mulheres (Ver: MARCUSE,1973). Esses movimentos tiveram força, sobretudo, nas Universidades norte-americanas, tendo sido apoiados pela esquerda.

Mamet começou a escrever nos anos 1970, uma década que, segundo Bigsby, tinha o ar de um dia após festa, obviamente pela grande repercussão do ano de 1968. Vistas nesse panorama, surgem as tentativas de Mamet para dar vida a valores americanos, expondo-os na medida em que são traídos e subvertidos. Que ideais são esses? Estamos em um tempo moralmente falido e cabe a nós sermos sinceros quanto aos nossos ideais, pensa Mamet, dizendo que o teatro é um meio para isso e que “Se formos sinceros quanto aos nossos ideais nós podemos ajudar a formar uma sociedade ideal, não com meros discursos, mas criando essa sociedade todas as noites para uma plateia, mostrando como funciona. Através da ação”. (MAMET, 2001, p. 60.)

David Mamet, através da arte, traz isso à tona de uma perspectiva carregada de pessimismo. Para ele, não é a sociedade que é injusta e opressora, mas é a natureza humana que sucumbe em fraude e corrupção.

 

Olivia Macedo Miranda Cormineiro

REVERBERAÇÕES DA LITERATURA CLÁSSICA NAS NARRATIVAS DE IGNÁCIO B. DE MOURA: O CASO DE VIRGÍLIO.

 

Quando se pensa na região amazônica durante o final do século XIX a imagem que comumente surge é o de lugar distante, desconhecido e, ao mesmo tempo, marcado pelo inenarrável. O viajante, sobretudo em sua primeira viagem à região, parece não encontrar referências para descrever o que lhe chega à retina: são rios, florestas e “selvagens” para os quais não encontravam uma tradução adequada. Nesse jogo entre o alcance sensível e a dificuldade de narrar surgiu o diálogo com a tradição literária clássica. Ignácio Baptista de Moura, engenheiro que viajou à região do Vale do rio Tocantins pela primeira vez em 1896, é um desses viajantes impactado e vacilante, cuja narrativa, o relato De Belém a São João do Araguaia: Vale do rio Tocantins, publicado em 1910,  reverbera os clássicos de Virgílio. Assim, nosso objetivo nessa apresentação é problematizar de um lado, as correspondências entre as imagens virgilianas e a paisagem amazônica construída pelo engenheiro; e de outro lado, buscar compreender como os signos apropriados daquela literatura da antiguidade clássica compõem uma das narrativas instituidoras da região dos vales dos rios Araguaia e Tocantins, um sertão particular.

Samuel Nogueira Mazza

ESTUDO DO ESPETÁCULO NO SINGULAR (2012), DA QUASAR CIA. DE DANÇA

Nesse Trabalho, pretendemos analisar o registro fílmico do espetáculo No Singular (2012), encenado pela Quasar Cia. de Dança. Para tanto, temos que ter em mente que estamos em contato com duas narrativas diferentes: a dança e o registro fílmico, que têm linguagens diversas e possuem códigos e procedimentos de análises análogos.

Sabemos que a dança encenada no palco é, em sua essência, um espetáculo efêmero, que possui uma duração e que não pode nunca mais ser repetida de forma idêntica como o foi. Em contrapartida, o desenvolvimento técnico possibilitou o surgimento de diferentes formas de registro, além do escrito, e que hoje são fontes para os historiadores pensarem as diversas manifestações humanas. Um desses materiais que tem concentrado análises é a filmagem não só os com enredos dramáticos ou documentários, mas também qualquer tipo de material construído na mídia fílmica.

Por se tratar então de uma linguagem, análoga à dança, com seus próprios códigos, o registro fílmico acaba por influenciar a recepção da dança que foi encenada, pois a edição de imagem e de som, posicionamento e movimentação das câmeras, cortes, efeitos, enfim todos os procedimentos característicos das películas acabam por nos dar uma representação do que foi espetáculo.

Nesse momento, é de extrema necessidade dialogar com teóricos da história que discutem o uso do cinema, do filme, enfim, da gravação videográfica como fonte para o historiador. Pretendemos buscar esses fundamentos em Robert A. Rosenstone, em seu livro A história nos filmes/Os filmes na história (2010) e História e Imagem: Os Exemplos da Fotografia e do Cinema (1997) de Ciro Flamarion Cardoso e Ana Maria Mauad. Esses três autores vão nos fornecer procedimentos para trabalhar a escrita histórica através das representações construídas pelo cinema.

Acreditamos que, realizando essa mediação entre o registro fílmico, o espetáculo encenado e o contexto histórico cultural no qual a companhia está inserida, seja possível, mais do que entender a obra No Singular, construir uma história a partir dessa obra obervando como os artistas representam um contexto histórico e como o público se sente representado, se reconhece nessa manifestação. Buscamos assim descortinar questões que permeiam a contemporaneidade e que estão presentes no cotidiano dos indivíduos.

Julia Lima Ribeiro

O espaço da Dança-Teatro Bauschiana na historiografia

 

O conceito Dança-Teatro não possui origem puramente alemã. Segundo Karen Bradley (2009), o dançarino e coreógrafo Rudolf Laban, considerado como o “pai da Dança-Teatro” – utiliza tal termo em seu artigo denominado “Das Tanztheater” (ou A Dança-Teatro), em 1924. Contudo, não cabe a nós discorrer acerca da constituição contextual do termo, uma vez que o foco deste trabalho é a melhor compreensão do conceito da Dança-Teatro, à vista da coreógrafa alemã Pina Bausch, e o lugal dessa obra de arte na historiografia.

A Dança-Teatro Bauschiana pode ser considerada como a mais autêntica representante da corrente alemã. Vale ressaltar que o Tanztheater não se resume a soma da dança ao teatro, mas se apresenta como uma espécie híbrida, a qual se dá com base na sensitividade de Pina, de seus dançarinos e a construída em conjunto por ambas as partes.

Lícia Maria Morais Sánchez, autora de A Dramaturgia da memória do Teatro-Dança, iniciou, em 1987, sua participação direta nos processos de criação de Pina. Ao tomar sua obra, Sánchez afirma que as respostas no processo bauschiano não constituem uma improvisação, o intuito é fazer com que o intérprete se desnude, mas não permite que o mesmo perca a cabeça, colocando em jogo os seus problemas pessoais.

Ela busca algo dado como “real” e não como mera representação do real. Segundo a coreógrafa, “não devemos imitar a realidade, pois ela é mais forte que qualquer imitação.” (SÁNCHEZ, 2010. p. 58). Assim, Pina não se baseia no sentido mimético de representação, mas no de “ser você mesmo”, com seu próprio ritmo, seus próprios gestos e sua “marca”, sem máscaras de atuação.

Mediante tal linha de pensamento, é que propomos a análise da Dança-Teatro como uma obra de arte, a qual possui o seu espaço na historiografia, embora o fazer historiográfico no âmbito da Dança seja escasso comparado com outras linguagens artísticas, como o Teatro, o Cinema e a Literatura. Consideramos então, a competência em se construir um discurso sobre o passado acerca de uma linguagem pouco trabalhada, em vista de outras.

Para mais, segundo Walther (1993) – citado por Juliana Carvalho em Contextualização da Dança-Teatro de Pina Bausch -, a Dança-Teatro bauschiana torna-se um modelo por mostrar a relação da conduta corporal com o contexto social. Portanto, além do já apresentado, cabe a nós garantir historicidade ao tema proposto, uma vez que a dança se relaciona ao corpo e este ao contexto social.

Gabriel Passold

ARTE E POLÍTICA: UMA PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA ANÁLISE DO RAP

 

Alguns setores da tradição crítica nas Universidades têm denunciado a falsidade das aparências da época democrática. Os intermináveis lugares onde se inscrevem o poder de quaisquer indivíduos, como por exemplo, nas artes, esconderiam uma relação de dominação, com o elemento kratos (poder) fora do demos (povo), o que evidenciaria a onipotência do poder do capital deste período. Não seria o caso, em contrapartida, de analisar a política dessas imagens que nos visitam? Pois tais inscrições não são meras aparências que escondem a realidade de um mundo ainda segregado e os direitos humanos não são meramente os direitos do indivíduo egoísta burguês, trata-se de um modo efetivo do aparecer de um mínimo de igualdade que se inscreve no campo da experiência comum. Quando isso ocorre, a ordem natural de dominação é interrompida por esses que fazem política. Pensamos a revolução como a emancipação ao alcance para qualquer indivíduo, como um processo de subjetivação, onde a revolução não depende da compreensão de um processo global de sujeição, mas é a aplicação da capacidade de qualquer um na construção do mundo. Surgem então, nesse tempo democrático novas possibilidades de vida. A revelia da tradição crítica que assegura a onipotência de uma indústria cultural, já faz algum tempo que o demos se inscreve na História por um elemento do kratos. Especificamente nas artes, situamos nossa proposta teórico-metodológica, a princípio, na análise estética de algumas obras de Rap, arte atual de fabricação musical supostamente desenvolvida no final do século XX. Este evidencia imagens do poder do “povo” na música e por isso proporciona cenas políticas. É necessária uma investigação dessas cenas de dissenso nestas obras, onde os corpos falam de outros lugares que não os seus da organização platônica da democracia, quando esses indivíduos a princípio destinados à obediência constroem narrativas de vida novas em um processo de subjetivação política. Entendemos que seja mais frutífera tal direção de investigação do que na eterna demonstração da onipotência do poder do capital. Dessa maneira, propomos pesquisar a relação imbricada entre história, arte e política, onde se considera a capacidade de corpos quaisquer se apoderarem de seu destino, como nos mostra, mais das vezes, a arte.

 

 

Javan Moises Girardi

Cânones: a retórica da historiografia da MPB.
O presente trabalho tem como escopo discutir a criação e reprodução do conceito de MPB – para além de um estilo musical, uma postura política – a partir dos trabalhos de alguns estudiosos da Música Popular Brasileira, tais quais José Ramos Tinhorão, José Miguel Wisnik, Arnaldo Daraya Contier e Marcos Napolitano. A discussão busca criticar a forma representacional de arte – postulada por autores clássicos como Aristóteles – e tem como antítese teórica a ideia de liberdade artística, a partir do conceito de educação estética, pautada em autores como Immanuel Kant, Friedrich Schiller e Jacques Rancière. Ou seja, o que se busca com este artigo é iniciar uma discussão acerca do modelo de eleição política dos artistas que compunham a gama da MPB, sobretudo no cenário da década de 1960, para entender o desdobramento em que a música popular brasileira rumou, analisada a partir de um artista aparentemente autônomo e que passeia por vários campos harmônicos, estéticos e políticos da canção. Nesse sentido, o que perseguimos é a concepção de arte e a construção da posição político-artística de Zeca Baleiro frente às correntes musicais brasileiras contemporâneas e perante ao que se refere à autonomia estética do gosto.

 

 

Fernando Cesar dos Santos

Progresso em Victor Hugo: Falsos firmes passos

Parece-me pertinente entender o século XIX como sendo, por excelência, a época dos antagonismos devido ao embate de concepções que aí se formularam e criaram ressonâncias pelos séculos posteriores. Algumas correntes de pensamentos se constroem de maneira pessimista e outras otimistas; algumas progressistas e outras fatalistas. Além desse dualismo, visto em boa parte de seus ilustres pensadores, o XIX nos traz uma exacerbação do sentimentalismo através de forte oposição ao homem racionalista que surgiu com a Modernidade.

O Romantismo surge, então, como contestação a um momento que se pretendia perfeito e simétrico, adotando uma postura de desconforto em relação ao que encontramos como quase sacralizado no meio das artes, da política e da sociedade em geral.

O romance “Os Miseráveis” (1862), de Victor Hugo, é herdeiro desse caráter contestador, mas gosto de ressaltar que o autor apresenta através de sua pena a própria contradição de seu século: os elementos do cristianismo e do iluminismo parece fundirem-se em um caleidoscópio racional. O aparente caos de concepções que se constroem historicamente como antagonistas, aparece como uma concepção muito bem arquitetada, mas não deixando de dar vazão aos excessos da idealização romântica.

Assim, buscarei apresentar como o progresso toma corpo na obra de Hugo e como esse conceito encerra em si boa parte dessa potencialidade e controvérsia de um dos grandes escritores do XIX, o chamado “l’homme siècle”.

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