Resumos e ordem de apresentações do Grupo de Trabalho 13

Programação de Comunicações Orais

(TODAS ATIVIDADES DESTE GRUPO DE TRABALHO OCORRERÃO NO AUDITÓRIO 5OH)

Grupo de Trabalho 13: História & Linguagens Artísticas: Discursos, Perspectivas e Métodos em Diálogo.

Coordenadoras: Cássia Abadia da Silva & Elidiane Silva Ferreira

Dia 10/06/15 – Quarta-feira (14h-18h)

Bloco 1: Entre páginas de jornais, versos e experiências teatrais: em cena a cultura brasileira

 

1 – LOHANNE GRACIELLE SILVA

“A Imitação da Rosa”: Beleza, Corpo e Moda em Clarice Lispector

 

Clarice Lispector esteve ao longo de sua jornada artística ligada ao jornalismo, em um período que não encontra espaço para publicação literária, teve ampla participação na imprensa. No ano de 1952, atua como “colunista feminina” no Jornal Comício: um semanário independente. Assina a coluna, publicada semanalmente com o título “Entre mulheres”, utilizando o pseudônimo Tereza Quadros. Apesar do nome da coluna sugerir uma publicação restrita as mulheres, Clarice escreveu sobre diversos temas – receitas culinárias, moda, comportamento  –  dentre estes, utilizou o espaço para publicação de contos ou de fragmentos de outros textos retomados em sua literatura. Pretendo neste trabalho, analisar os textos e imagens utilizados pela autora na coluna, em especial dedico-me a observar as colocações que fez a respeito da moda em sua época, onde o “new look” estava em evidência. Destaco também a representação acerca do corpo feminino nesse espaço, corpo que deve estar disciplinado de acordo com os modelos vigentes. O trabalho faz parte de um percurso inicial para entender a ambivalência da produção de Lispector, e principalmente compreender, qual o movimento em que os textos da artista, antes rejeitados para publicação, percorrem para que sejam incluídos na Instituição Literária.

2 – LÍGIA GOMES PERINI

Ói Nóis Aqui Traveiz nas Páginas dos Jornais: História e Recepção do Teatro Contemporâneo

 

Este trabalho tem o propósito de contribuir para os estudos que buscam convergências entre história e teatro a partir da leitura e reflexão sobre a maneira pela qual os espetáculos do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, especialmente aqueles apresentados entre 1978 e 2011, foram lidos pelos jornais, nos fornecendo pistas de como as peças foram recebidas no momento em que foram encenadas. Pretendemos perceber as representações fabricadas sobre os espetáculos e o grupo por um tipo específico de público que deixou para a posteridade indícios da história da trupe gaúcha. Ao mesmo tempo, perguntamos qual o lugar do teatro político contemporâneo nas páginas dos jornais e na História do teatro brasileiro.

 

3 – HELOISA MAFALDA BENANTE CACIQUE

O Caso dos Irmãos Naves: O Maior Erro Judicial Brasileiro à Luz do Espetáculo Teatral do Grupo Emcena

Em 1937 na cidade de Araguari – MG, os irmãos Joaquim e Sebastião Naves foram acusados de terem cometido o crime de latrocínio: roubo seguido de morte, contra o próprio primo Benedito Caetano. O Estado Novo presidido por Getúlio Vargas e recém-inaugurado naquele ano não permitia “crimes” não esclarecidos, desta forma foi designado para solucionar o caso, o Tenente Francisco Vieira, um militar truculento e experiente em retirar a “verdade” dos réus. Tanto os irmãos Naves, quanto sua mãe e esposas foram torturados por meses a fio, até que os réus confessassem finalmente o crime. Somente em 1952, após terem cumprido pena, é que foi concluído que os irmãos Naves eram inocentes e que sequer havia ocorrido um crime, pois Benedito Caetano: o “morto-vivo”, como ficou conhecido estava vivendo e trabalhando na cidade de Nova Ponte – MG. A história dos irmãos Naves ficou registrada como o maior erro do judiciário brasileiro, o advogado de defesa da família João Alamy Filho escreveu em 1960 a obra: O caso dos irmãos Naves: o erro judiciário de Araguari, relatando parte dos autos processuais, o abuso cometido pelo Tenente Vieira e a tragédia sofrida pela família Naves. A obra de Alamy foi uma das bases para a montagem do espetáculo teatral do Grupo EmCena, cujo integrantes também são da cidade de Araguari – MG. O espetáculo iniciou sua trajetória no ano de 2006, sob a direção de Tiago Scalia e Fernando Mikael. Sucesso de público em toda a região do Triângulo Mineiro, a encenação remonta os principais fatos ocorridos com a família Naves a partir do ano de 1937, o qual o “suposto crime” teria acontecido. Os diretores preocuparam em recriar peculiaridades da personalidade dos personagens, buscando preencher importantes lacunas para a compreensão de alguns fatos. A iluminação se destaca por uma gelatina amarela, que procura reproduzir a “sensação” de época, um dos mais importantes momentos do espetáculo são as cenas chocantes de diversas torturas que os irmãos sofreram. A trilha sonora é composta de sucessos musicais do período da ditadura militar brasileira, buscando uma associação entre a ditadura varguista e a militar. De fato, o espetáculo do Grupo EmCena é engajado, denunciativo e cumpre um importante papel social ao (re) significar essa tragédia.

4 – GABRIELA DE ARAUJO OLIVEIRA

Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come: Arte e Política no Brasil Pós-1964

A escrita da história passou por uma transformação significativa a partir do século XX, principalmente com a fundação da Escola dos Annales. Desse modo, o campo de pesquisa do historiador se modificou, abrangendo novos documentos, fontes, ou seja, o modo de pesquisar a história. As Peças Teatrais, por exemplo, se tornam fonte para o historiador. Desse modo, minha pesquisa desenvolvida na Iniciação Científica visa compreender e pesquisar sobre a vida de Ferreira Gullar e a peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come de Ferreira Gullar e Oduvaldo Viana, sendo Ferreira Gullar um intelectual engajado. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come se insere no contexto político e artístico brasileiro na década de 1960 e 1970, sendo assim necessário levar em conta a posição política do autor e até mesmo cultural que ele buscou mostrar junto a seu parceiro. Analiso em um primeiro momento a peça teatral, e a historiografia sobre teatro. O que mais chama atenção, é que a peça inteira é escrita em versos para que o público entenda, onde os personagens contam a sua história. Para Bissett, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come possui características do teatro de Brecht, porque há um distanciamento do público em relação ao emocional dos personagens e da peça, onde a partir do cordel o humor e a sátira são elementos fundamentais. Busco levantar documentos sobre  Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come de Ferreira Gullar, para entrar em detalhes sobre a sua trajetória – social, política e cultural – no período da ditadura militar e pós a mesma. Os documentos artísticos dessa forma, são fonte para o historiador, pois nelas estão contidas sentimentos, opiniões, críticas, posicionamentos sobre uma época ou um fato em que os autores estão retratando.. O que posso ver na obra de Ferreira Gullar, é que sua principal preocupação é de cunho social, político e cultural, principalmente na forma em que ele aborda seus personagens, como por exemplo o patronato.

5- ELIDIANE SILVA FERREIRA

O Exílio Gullariano e seus Percursos: Entre os Versos e os Avessos

 

O exílio é um corte com o mundo social, afetivo, cultural e político. O exilado se priva do convívio com os amigos e familiares, tem que lidar com uma gama de sentimentos e controvérsias internas, que muitas vezes os levam ao extremo, além de ter de se adaptar quando for o caso, a outras culturas e línguas. É uma experiência tanto social como coletiva, nos falam de sentimento que foram decorrentes das situações vivenciadas por aqueles que se encontram ou se encontraram nele envolvido. Por conseguinte, analiso os poemas escritos por Gullar no contexto do exílio que oferecem um testemunho expressivo acerca de seu sentimento de solidão, inserido em um mundo ao qual não lhe é permitido a liberdade de expressão. Salientando como o enfrentamento do isolamento permitiu ao poeta encontrar a sua singularidade, o seu rigor e estilo.

6 – ROCHELLE GUTIERREZ BAZAGA

O Uso das Charges como Fonte: Múltiplas Possibilidades e Caminhos Historiográficos

O presente trabalho tem por objetivo participar do debate historiográfico sobre o uso do jornal e das charges como fonte para a história ;  posicionando a charge como mais um código para a produção político cultural, afirmando o caráter universal da charge, e o alcance da sua representação e ainda sobre as possibilidades e caminhos do trabalho com as charges.

Bloco 2: Da imagem parada a imagem em movimento: fotografia e cinema

7 – MIRIAM MENDONÇA MARTINS

História e Fotografia: Um Debate entre Roland Barthes, Jacques Rancière e Walter Benjamin Sobre a Natureza Artística da Imagem Fotográfica

Roland Barthes e Walter Benjamin consideram que a fotografia não é uma produção artística. Partindo do princípio de que a imagem fotográfica é um testemunho do real no estado passado, tais autores alegam que a foto, assim como a História, serve para salvaguardar a lembrança dos fatos que aconteceram e dos personagens que um dia existiram. Neste sentido, Barthes e Benjamin atrelam a imagem fotográfica a uma visão positivista da História, ao considerarem que tanto o discurso historiográfico quanto a imagem fotográfica devem fornecer pistas verdadeiras sobre a realidade dos tempos passados. Dessa forma, ambos os autores acreditam que a aura da fotografia está    atrelada à possibilidade de retratar os rostos ou corpos humanos. Quando a fotografia deixa de ser um mero retrato (testemunho) dos antepassados, ela se torna, para os autores, um dispositivo de reprodução comercial de imagens. Para Barthes e Benjamin as sociedades modernas perderam a capacidade de conceber sua duração, na medida em que foram constantemente inundadas por todo e qualquer tipo de imagens. Jacques Rancière, filósofo francês, discorda terminantemente das ideias de Barthes e Benjamin sobre a relação da História com a Fotografia. Para Rancière não são as imagens que estão em excesso, mas sim o número de pessoas que querem explicar o que elas significam. Diante disso, o filósofo francês desqualifica todo e qualquer discurso que se julga competente para explicar o que a arte, as imagens, a História e as fotografias, representam. Abolindo toda hierarquia do entendimento sobre a sensibilidade, Rancière analisa a História e a Fotografia a partir do que ele chama de regime estético das artes. Tendo isso em vista, tal autor considera que a fotografia é uma produção artística que não está necessariamente atrelada ao passado e não representa a verdadeira realidade dos fatos acontecidos. Assim, Rancière entende que o que liga a História e a Fotografia é o fato de que ambas nasceram no interior de uma revolução estética.

8 – CÁSSIA ABADIA DA SILVA

A representação do “outro” à luz da obra cinematográfica Orações para Bobby

Tendo em vista as possibilidades da obra arte para construção da pesquisa e do conhecimento histórico é que proponho esse trabalho, pautado pela a instigante relação História e Cinema. Nossa finalidade é analisar como construímos representações acerca do “outro”, esse “outro” aqui se trata do homossexual, sujeito social que luta para ser reconhecido e respeitado os seus direitos frente ao preconceito e a intolerância.

Assim escolhemos a obra cinematográfica Orações para Bobby, apesar da sua recepção pelos meios “convencionais” ter sido restrita, ele teve uma ótima circulação na internet, tendo milhares de pessoas o assistido de diversas parte do mundo, aqui no Brasil assim como em outros lugares ele não chegou ao cinema, sendo possível assisti-lo pela internet ou por meio de atividades e locais alternativos.

Muito embora a obra não tenha uma alta qualidade em relação à fotografia e outras coisas mais, a forma como a narrativa se empreende é muito interessante e sútil, além disso, apresenta uma linguagem clara e de fácil compreensão, o que nos permite trabalha-lo com qualquer público, principalmente com adolescente, enfim consideramos e esperamos que essa proposta possa suscitar um ótimo debate.

Dia 11/06/15 – Quinta-feira (14h – 18h)

Bloco 3: Encontros entre Clio e Calíope: múltiplos olhares e abordagens

 

9 – MARIANE MUNDIM BORGES

Exílio em A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera

 

Edward Said, em seu ensaio Reflexões sobre o Exílio, nos lança uma informação inquietante ao afirmar que a vasta maioria da literatura, bem como outras manifestações artísticas e culturais produzidas no século XX, são produções humanas marcadas por contextos de exílio. Basta lembrarmos os terríveis totalitarismos, imperialismos, ditaduras e as duas grandes guerras que balizam esse século para nos dar conta, não sem certa angústia, da legitimidade desta informação. Contudo, o que a priori gera desconforto, com a leitura integral do ensaio de Said, tem-se a possibilidade de enxergar a condição de exilado sob um novo prisma. Ao invés de somente uma condição de isolamento, angústia e solidão, o exílio parece ser o “desconforto” oportuno que submete, beneficamente, artistas e intelectuais a uma pluralidade de contextos; pluralidade esta, que é bem-vinda, quando se trata de criações e manifestações artísticas.

É indo ao encontro da percepção de Said que elenco a obra A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, como objeto de estudo. Levando- se em conta a trajetória pessoal de seu autor, um sujeito que é contemporâneo de boa parte das situações extremas citadas por Said, é lícito situá-lo na categoria de escritor exilado que, portador de nacionalidade tcheca, encontrava-se em situação desconfortável em decorrência da invasão russa, no ano de 1968, em sua pátria natalícia. Por consequências da citada tirania, Kundera se exila na França no ano de 1975, e lá ainda permanece.

Publicado em 1982, na França, A Insustentável Leveza do Ser tem sua trama gravitando em torno de quatro personagens, num enredo que mescla o erotismo, tão característico de Kundera, com a situação política e social de uma Tchecoslováquia (hoje, República Tcheca) reprimida e barrada em seu processo de instalação de um socialismo democrático. Os personagens da obra são representações de muitos sujeitos reais, contemporâneos à invasão russa, e, em muitos casos, compelidos a situações de exílio.  A narrativa Kunderiana exemplifica ainda, aquilo que Said nomeou como consequência benéfica do exílio: obrigando os sujeitos a viverem em um novo contexto, impedidos de retorno, o exílio aumentaria suas capacidades criativas, bem como, privando-os de segurança os incitaria à criação de um lugar de refúgio que não substitui, mas ameniza a dor e vazio agudo por não se encontrar mais “em casa”, na pátria de nascimento. Semelhante lugar seria a escrita, e isto explica tantos exilados que tornam-se escritores.  Ou ainda, é significativo pensar que muitos escritores tornam-se exilados exatamente por serem o que são, e, no caso de Kundera e muitos outros, a situação de exilado fomenta ainda mais a produção literária.

O trabalho se guiará pela exemplificação na obra de personagens e situações a eles relacionadas, que são, ao mesmo tempo que importantes peças da narrativa em si, representações das supracitadas situações de exílio banalizadas no século XX. Um importante questionamento é também pensar até que ponto, criando personagens em situações similares a sua, Milan Kundera faz de sua escrita a sua “nova pátria”, uma vez que, banido de seu local de nascimento e exilado na França, encontra-se, de modo irônico e contraditório até, em um “não-lugar” e, quando da escrita de “A Insustentável Leveza do Ser”, tinha sua identidade tcheca fragilizada, porém, de modo algum ele se via em novas roupagens de francês.

 

10 – RAFAEL AUGUSTO FACHINI

THOREAU – O Transcendentalismo na América no Século XIX

 

O que leva uma pessoa a ir morar na beira de um lago e escrever livros criticando o sistema vigente na época? Qual era a conjuntura social que levou Thoreau a aderir ao movimento denominado “transcendentalismo”? São estas perguntas que pretendo responder com o trabalho, de forma a buscar uma analise através da literatura (neste caso através do ensaio “A desobediência Civil” e o livro “O Walden”, ambos de Thoreau) da época em que o autor se encontrava.

Para entendermos Thoreau e suas motivações, primeiro precisamos entender o movimento que ele fez parte, o transcendentalismo. Em 1820 chega na “nova Inglaterra” o movimento romântico, o romantismo era norteado pela admiração pelo belo, à idealização da natureza e a exaltação do individualismo, a autoexpressão e o autocontrole tornam-se conotações benéficas para os românticos.

“O desenvolvimento do ‘eu’ tornou-se tema central; a autoconsciência, o método mais importante. Se, segundo a teoria romântica, o eu e a natureza eram uma coisa só, a autoconsciência não era um caminho egoísta, sem saída, mas uma forma de conhecimento e ampliava o universo. Se o próprio eu vibrava em harmonia com toda a humanidade, então, o indivíduo tinha a obrigação moral de reverter as desigualdades sociais e aliviar o sofrimento humano.” (VANSPANCKEREN, Kathryn.)

Com os românticos a palavra “eu” perde a conotação de egoísmo, e passa a ser vista como uma construção interior, um melhoramento do indivíduo que refletiria na própria sociedade em que viviam, desta forma, segundo Vanspanckeren, palavras como “autorrealização”, “autoexpressão” e “autossuficiência” são proferidas entre os românticos com esse ideal de alguém que ao se conhecer, e conhecer o local onde vive (admirando a natureza e tudo que o cerca) consegue melhorar a sua relação com as outras pessoas. Ainda segundo a autora, o romantismo parecia apropriado para a democracia americana: ele enfatizava o individualismo, afirmava o valor da pessoa comum e buscava na imaginação inspirar seus valores éticos e estéticos.

A partir disso surgem os movimentos transcendentalistas, intimamente ligados ao romantismo, os escritores transcendentalistas americanos levaram ao extremo o individualismo como forma de autoconhecimento que alguns, como Thoreau, chegaram a viver isolados da sociedade durante algum tempo.

 

11 – EDVÂNIA MARIA SOARES DE ARAÚJO

O Romance de Folhetim Philomena Borges e as Relações de Gênero no Rio de Janeiro do Final do Século XIX

 

Em meados do século XIX chega ao Brasil, importado dos periódicos franceses, o folhetim. Fonte fecunda de amores, vinganças, traições, ódios e paixões ele contava com uma linguagem simples e suspense necessários para manter ativo o interesse de seus leitores. Assim como outros autores conhecidos, Aluísio Azevedo publicou várias de suas obras primeiramente em folhetim. Não foi diferente com o romance Philomena Borges, onde o autor narra a história de um jovem casal e suas aventuras e desventuras após o matrimônio. Misturando ficção e realidade o folhetim é uma interessante fonte de investigação, pois, é também a partir dele que literatos faziam do jornal um veículo de divulgação de práticas, projetos e costumes que se desejava para a sociedade. Tendo em vista a potencialidade dos folhetins e especialmente do romance escrito por Azevedo, este trabalho tem como objetivo compreender o papel dos folhetins e da literatura nos jornais das últimas décadas do século XIX, enfatizando as relações entre realidade e ficção, literatura e jornalismo na imprensa. Pretendo também examinar o comportamento feminino presente na obra, o esperado, o praticado, o criticado, o condenável a partir das expectativas do autor, observando também o que se diz respeito às relações entre homens e mulheres no casamento em finais do século XIX na sociedade fluminense.

 

12 – VANESSA SILVA MOREIRA UEHARA

A Escrava Isaura, Literatura Abolicionista de Bernardo Guimarães: A Importância do Direito na Sociedade Escravista Brasileira

O romancista Bernardo Joaquim da Silva Guimarães[1] pode ser pensado como um dos militantes abolicionistas do século XIX brasileiro, pois por meio de sua literatura, abordou o drama da escravidão e deu vozes a questão servil, colocando em voga os problemas do cativeiro no Brasil oitocentista. Para chamar a atenção dos leitores, o romancista demonstrou o sofrimento de uma escrava de cor branca, que vivia sobre o julgo do cativeiro. Classificou o sistema servil como um mecanismo abominável e criminoso que submetia seres humanos a graves problemas sociais. Por isso, a importância de estudar a fonte literária A Escrava Isaura, pois a leitura deste romance nos permite observar como o literato compreendia a realidade da qual fazia parte.

Sendo assim, a abordagem que se empreende neste trabalho, busca compreender o discurso emancipacionista do literato em A Escrava Isaura. Como sabemos em meados da década de 1870, a questão servil era assunto bastante recorrente nos debates políticos parlamentares. E muito se discutia sobre a aprovação da proposta de lei emancipacionista, que ficou conhecida como Lei do Ventre Livre. Percebendo tais problemáticas, Bernardo Guimarães coloca em voga questões legais que regulavam o sistema escravista, demonstrando assim que, os escravos não estavam sozinhos em suas empreitadas e que o Direito aparece como elemento primordial na luta pela liberdade desses cativos no percurso do século XIX.  Na trama, o autor narra à condição de Isaura que desde o seu nascimento fora feita escrava. Provavelmente no período em que Bernardo Guimarães escreve o referido romance, a Lei do Ventre Livre ainda estava em discussão e havia vários posicionamentos a respeito da aprovação dessa lei.

Portanto, para o desenvolvimento deste trabalho, nos apoiamos na leitura de A Escrava Isaura tendo como proposta buscar indícios a respeito das relações senhoriais vividas no século XIX brasileiro, e do ideal de dominação e de subordinação entre senhores e escravos e ainda pensar sobre a importância das leis na sociedade escravista.

Desse modo, nos apoiaremos na vasta bibliografia produzida nas universidades brasileiras desde a década de 1980, que tinha como prerrogativa refletir sobre a escravidão no Brasil, tendo como perspectiva a atuação não somente de senhores, mas, sobretudo dos libertos e escravos. Ter em nossas mãos essa bibliografia tão importante nos permite romper com a ideia de que os escravos eram sempre submissos, sujeitos sem ação e sem voz. Permite-nos ainda, compreender que as leis estavam à disposição não somente dos escravistas, mas que, por meio delas os escravos conseguiam melhorar sua condição de vida, ou até mesmo conquistavam a sua liberdade. Todas essas questões vieram à tona, graças à nova perspectiva da historiografia que enxergou os escravos como sujeitos históricos capazes de se movimentar diante da condição de subjugados que ocupavam no sistema servil. Tendo como aliados a lei e a justiça imperial que foi sendo criada ao longo do século XIX como um aparato regulador da escravidão.

13 – TAÍSA DE MOURA OLIVEIRA

Trabalhar Para Enriquecer, Trabalhar Para Sobreviver: Aspectos sobre o Trabalho no Rio de Janeiro Oitocentista Através de O Cortiço

Pensando na representação que Aluísio fazia das identidades sociais por meio de seus personagens, abordo o tema trabalho através de três personagens principais, a saber: João Romão, Bertoleza e Jerônimo, e o grupo das lavadeiras. O primeiro personagem estudado, João Romão, encarna o comerciante português que enriquece, no Brasil, por meio do comércio e dos lucros que obtém com o cortiço que constrói no bairro do Botafogo. Já a personagem Bertoleza evidencia as peculiaridades dos últimos anos da escravidão na corte, dado que ‘vivia sobre si’ e trabalhava como quitandeira no Bairro do Botafogo. Negra e resignada, a escrava se junta a João Romão e será fator elementar na construção da sua riqueza. O terceiro personagem tratado, Jerônimo, representa a outra face dos portugueses que viviam na Corte: a dos portugueses pobres que trabalhavam em serviços braçais. Caracterizado por Aluísio como homem forte e honesto, é quem contribuirá no enriquecimento do comerciante João Romão quando for trabalhar em sua pedreira. E, por último, o grupo das lavadeiras, que expõem o trabalho das mulheres livres e moradoras dos cortiços. Essas mulheres precisavam trabalhar bastante, pois, muitas vezes, eram as únicas provedoras do lar. Percebemos, também, que as lavadeiras têm certa consciência de sua condição enquanto trabalhadoras e mulheres e, por isso, se apresentam mais unidas.

Um vasto leque de temas pode ser explorado através de O Cortiço. Dentre eles, um muito importante, pois dá sentido e composição a todo o romance, é o trabalho. Habitado por uma gama de personagens trabalhadores de diversas profissões (lavadeiras, quitandeiras, prostitutas, cavouqueiros, ferreiros, policiais, operários, comerciantes e negociantes), o cortiço São Romão traz para seu centro as transformações que ocorriam no país no século XIX, como o crescimento urbano do Rio de Janeiro desde a vinda da família real para o Brasil (1808), o fim do tráfico negreiro (1850), e o fim da escravidão (1888).

Posto que o romance trata de uma coletividade desfavorecida e da burguesia no Rio de Janeiro oitocentista em constante transformação, o trabalho é tema fundamental, pois é o elemento que une essas duas dimensões da sociedade. De um lado, a classe proletária livre depende do trabalho oferecido pela burguesia ascendente e, de outro, a burguesia necessita do trabalho e da suposta ignorância dessa classe para o seu enriquecimento.

14 – JOHNY ASSUNÇÃO TOMÉ

Dos Barulhos do Duro a construção do romance O Tronco, de Bernardo Élis

A relação entre história e literatura inquieta uma nova geração de historiadores, em especial posteriormente a (re)descoberta da cultura pelos historiadores, na década de 1980. Nessa perspectiva, busco analisar os Barulhos do Duro, uma disputa política ocorridos em São José do Duro, hoje Dianópolis (TO), a partir da análise do romance O Tronco (1956) de Bernardo Élis.  O romance de caráter político, ambientado entre 1918 e 1919, narra a violência, coerção e o mandonismo dos coronéis Melos no interior de Goiás, e a omissão do Estado de Goiás, comandado pela oligarquia Caiado, frente à violência do coronelismo. A instituição literária não possui compromissos em retratar um registro fiel do passado histórico, no entanto em meio a ficção, a  literatura  expressa representações sociais do presente/ passado dos literatos cifrados por metáforas no texto discursivo. Partindo dessa premissa, procuro averiguar as metáforas cifradas na narrativa, respeitando a sensibilidade do discurso ficcional. Assim, o texto além da crítica ao coronelismo goiano, pode ser lido como um desdobramento do movimento de 1930 em âmbito regional, que contestava a velha oligarquia goiana, juntamente com a antiga capital (Goiás) simboliza o “atraso”, o coronelismo, as velhas forças do império, da primeira república enaltecia o Estado Novo, o moderno, cujo maior símbolo da passagem e da tentativa de esquecimento da antiga república, foi à transferência da capital para Goiânia (1943), cujo Élis foi prefeito substituto. É uma tarefa difícil, senão infrutífera destacar se a literatura é uma construção do real ou o seu disfarce. Sem dúvida, é sua representação, uma construção social a partir de determinações históricas Eis os tênues limites entre Clio e Calíope!

Bloco 4: “Pagode de viola” à MPB: diálogos sobre música

 

15 – DIOGO SILVA MANOEL

“Uma Coisa Puxa A Outra”: Identidade, Humor e os Três Eixos da Vida Caipira em um Pagode de Viola

A presente comunicação deriva das investigações e dos questionamentos de nossa pesquisa de mestrado acerca da história da música brasileira. A ideia central é apresentar a análise da poesia de uma canção “caipira”; especificamente, um pagode de viola de autoria de Tião Carreiro, um dos mais notórios violeiros de todos os tempos. A canção intitulada “Uma coisa puxa outra”, lançada no álbum Pagodes vol. 2 de 1979, é mais um exemplo de como elementos que compõem a identidade cultural das populações interioranas estão inseridos e transparecem no cancioneiro caipira.

Inspirados pelos Estudos Culturais do século XX, temos o conceito de identidade cultural como objeto de estudo que possibilita uma investigação histórica pautada na compreensão das representações de grupos sociais. Os estudos de identidade muito em voga no século passado (BAUMAN, 2005), são a decorrência de processos como a globalização e preocupações no âmbito acadêmico com o multiculturalismo inerente às transformações da vida em um ambiente pós-moderno. A cultura brasileira se enquadra neste quadro por se tratar uma sociedade diaspórica, forjada por diversas culturas que aqui se fixaram. Ocorre que, em um cenário nesses moldes, a iminência dos grupos em tomar novas posições de identificação, dão condições para surgimento de novas identidades que seriam concebidas em “circunstâncias econômicas e sociais cambiantes” (WOODWARD, 2014:20).

Aproveitando os elementos que nossa fonte evidencia, queremos expor como nela estão embutidos fundamentos da identidade caipira, focando nos três eixos essenciais da cultura rústica: o trabalho, a religião e o lazer. Como sugere Antonio Candido (2010), pensar através desses três eixos é uma forma de melhor compreender a vida dos habitantes do interior. Partindo dessas premissas, pretende-se exemplificar que os tais eixos são símbolos da vida rural. Além disso, discorrer-se-á sobre uma característica identitária muito evidente nos pagodes de viola: a comicidade.

16 – JAVAN MOISES GIRARDI

Cânones: A Retórica da Historiografia da MPB

 

O presente trabalho tem como escopo discutir a criação e reprodução do conceito de MPB – para além de um estilo musical, uma postura política – a partir dos trabalhos de alguns estudiosos da Música Popular Brasileira, tais quais José Ramos Tinhorão, José Miguel Wisnik, Arnaldo Daraya Contier e Marcos Napolitano. A discussão busca criticar a forma representacional de arte – postulada por autores clássicos como Aristóteles – e tem como antítese teórica a ideia de liberdade artística, a partir do conceito de educação estética, pautada em autores como Immanuel Kant, Friedrich Schiller e Jacques Rancière. Ou seja, o que se busca com este artigo é iniciar uma discussão acerca do modelo de eleição política dos artistas que compunham a gama da MPB, sobretudo no cenário da década de 1960, para entender o desdobramento em que a música popular brasileira rumou, analisada a partir de um artista aparentemente autônomo e que passeia por vários campos harmônicos, estéticos e políticos da canção. Nesse sentido, o que perseguimos é a concepção de arte e a construção da posição político-artística de Zeca Baleiro frente às correntes musicais brasileiras contemporâneas e perante ao que se refere à autonomia estética do gosto.

NOTAS:

[1] O autor nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 10 de março de 1825. Estudou em sua cidade natal, e depois na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se formou em 1852. Nesse mesmo ano o romancista publicou Cantos da solidão. É interessante pontuar ainda que o literato também exerceu o jornalismo no Rio de Janeiro, mas é da sua experiência em Goiás, como juiz, que lhes saem outros romances, como O ermitão de Muquém e O índio Afonso. Os últimos anos de sua vida foram dedicados à escrita de romances literários, que se situam na fase do Romantismo brasileiro de feição popular, tendo sido muito lido na época em que foram publicados. A Escrava Isaura e O seminarista devido ao grande sucesso com o público foram adaptados para a televisão. O primeiro inclusive tornou-se reconhecido mundialmente por causa da novela exibida pela Rede Globo de Televisão entre 1976 e 1977 e que tinha como protagonista a atriz Lucélia Santos.

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